Semelhanças entre Ruy Barbosa e o profeta Isaías sobre “A vergonha de ser honesto.”

O profeta Isaías em seu tempo, disse: “Temos pecado muito contra ti, ó Deus, e os nossos pecados nos acusam. Não podemos esquecer as nossas maldades; reconhecemos que somos culpados. Não temos sido fiéis, temos nos revoltado contra ti e nos afastado de ti, o nosso Deus. Temos falado de crimes e de revoltas e temos feito planos para enganar os outros. A justiça é posta de lado, e o direito é afastado. A verdade anda tropeçando no tribunal, e a honestidade não consegue chegar até lá. A verdade desapareceu, e os que procuram ser honestos são perseguidos.” (Is 59:12 a 15)

Ao ler o texto, nos parece que ele é mais atual e do que qualquer jornal que foi impresso hoje. Ele diagnostica um dos grandes problemas de sua nação, e o denuncia. Não parece que ele está diagnosticando um problema apenas do seu povo, mas, parece que ele está fazendo um diagnóstico do Brasil. O engraçado que esse homem está a mais de 2.500 anos atrás de nós… que precisão é essa com que ele narra as coisas semelhantes aos nossos dias, os problemas são os mesmos, parece que o mundo não melhorou, não evoluiu. Certamente, os tempos mudaram, mas, o seu habitante não mudou – o homem. O coração do homem é inclinado para o mau, maquinando e desejando tudo que é contra a lei de Deus, tudo que fere o próximo e desagrega a sociedade. 

O diagnóstico que Isaías vai fazer do seu tempo, dá sua época e da nação, é o mesmo diagnóstico que fazemos hoje da nação brasileira e quase que no mundo num geral. Portanto, essa palavra não pode ser olhada como as lentes do retrovisor como se estivéssemos descrevendo e citando um fato pretérito e antigo, mas, lendo-o é como se o texto estivesse olhando para nós mesmo nos espelhos.

Vede quantas pessoas há em nosso meio que, por muito se multiplicar a desonestidade, muitos acabam sucumbindo também por viverem essa vida atrás do TER muito mais do que ao SER, hoje todos QUEREM porque muito TEM, e essa pressão jungida a uma falha de caráter que vai deixando as pessoas sínicas e imersas na mentalidade da manada, isto é, “se todos estão fazendo e em fazendo estou obtendo êxito e dando certo, por que não o farei também?” Essa mentalidade gera essa falsa sensação de impunidade frente, até mesmo, a coisas mínimas que se faça. Não há moralidade muito resistente em nosso meio, a inversão de valores se instalou desde que o mundo é mundo e especialmente aqui no Brasil desde seu descobrimento, hoje ela se proliferou ainda mais e virou um fator normal; é normal ser desonesto com o outro, com os negócios, com a vida e, até com Deus, porque, dizem os sonsos: “Deus é misericordioso e perdoador!”. Ao invés de aborrecerem ao mau e amarem ao bem, fazem o inverso, “amam o mau, e aborrecem ao bem” (Mq 3:2).

Está errado quem faz o certo. É isso que querem nos passar. Parece que fazer e defender o certo é crime, ou no mínimo, resquício de uma mente otária, muito por isso são até perseguidos, pois, são uma nítida ameaça:

(…)a verdade anda tropeçando no tribunal, e a honestidade não consegue chegar até lá. A verdade desapareceu, e os que procuram ser honestos são perseguidos.” (Is 59:14,15).

Uma coisa é tolerância ao erro, outra coisa bem diferente é inversão de valores, você pode tolerar o erro seu ou de alguém, mas, aceitar a inversão deliberada de valores, não. Aquilo que é vergonho, hoje é aplaudido e, aquilo que é repudiado, hoje se tornou aceito. Aquilo que é bom e legítimo parece que virou vergonhoso.

Olha a nossa vida e nação, olhem os noticiários e verás que não minto e nem exagero. Olhem a política, olhem a justiça no Brasil, olhem para alguns de seus parentes, para alguns de seus amigos; olhem para você mesmo. Eu também olho para mim e me decepciono, tolero meu erro porque sei que ando perdoado em Cristo, mas, não aceito inverter meus valores e minha consciência deliberadamente.

E aqui nesse ponto que lembrei de uma frase citada num requerimento que li no ano 2007, ou seja, há 14 anos, creditada ao Senador Rui Barbosa que ao que parece, o mesmo escreveu em virtude do vultoso Caso Satélite ocorrido em 1914, segundo palavras do próprio senador, foi uma chacina de presos. A impunidade dos assassinos confessos, depois de quase 4 anos decorridos do crime, foi o que motivou Rui Barbosa a fazer o Requerimento falando sobre “a vergonha de ser honesto”:

“(…)de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Há ou não consenso entre o antigo texto de Isaías citado no início – que nem merece ser chamado assim de antigo, pois, salta aos nossas olhos com uma precisão estonteante como se outrora tivesse sido escrito hoje – com a frase do requerimento de Rui Barbosa?

Termino com outra frase, só que se diz pertencer a São Tomás de Aquino, um filósofo escolástico e teólogo católico, que se coaduna com tudo que dissemos aqui, ele diz que:

não se opor ao erro é aprová-lo, e não defender a verdade é suprimi-la; e a nossa negligência em defender a verdade, quando podemos fazê-lo, é tão pecado quanto incentivar o erro. A paz, se possível, mas, a verdade, a qualquer preço.”

Em lado estamos? Do lado dos que se indignam com a desonestidade no mundo, ou dos que até se sentem envergonhados, mas, ficam inertes negligenciando todo erro cometido dando uma de João sem braço vendo a desonestidade e injustiça traçando o mundo e fazendo um estrago na vida de muitos?

“A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens.” (Rm 12:17); “Pois zelamos do que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens.” (II Co 8:21); “Para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e não necessiteis de coisa alguma.” (I Ts 4:12); “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (I Pe 2:12); “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” (Fp 4:8).

Amigos e irmãos, “nada podemos contra a verdade, senão pela verdade!” (II Co 13:8).

Rubens Júnior,
Campos/RJ,
Escrito em 21/09/2013, mas, redigido e acrescido novas palavras hoje (07/04/2021).