Todos fazem acusações e todos se defendem

Todos fazem acusações, é o que diz o psicólogo Paul Tournier em seu livro “Culpa e Graça” que a poucos dias reiniciei a leitura e acabei hoje.

TODOS nós temos a síndrome da onipotência divina, isto é, quando julgamos a conduta de alguém, fazemos com um tom que significa implicitamente que Deus julgaria exatamente como nós fazemos. Em todas as acusações que nós lançamos sobre os outros, há nela uma verdadeira intenção de culpar o outro, de convencer de culpa aquele que nós julgamos, queremos fazer o outro reconhecer os seus erros partindo do princípio daquilo que chamamos de “minha opinião”, “minha verdade”, “minha moral” e “minha dignidade e integridade” proferida por um ser errante e pecador também, e que tem a pretensão de sempre desacreditar do outro e de ser “juiz da conduta alheia”.

Temos razões para tudo, todos apresentam suas razões e morrem por ela. Quão vaidosos nós somos!

A vida sempre traz conflitos. Não existe vida sem conflito. Diz um ditado que “se até você não falar nada e não fizer nada, será criticado, julgado e acusado de alguma forma, talvez, por não ter feito e falado nada!

TODOS fazemos acusações, mas, também, toda acusação feita tem um reflexo de defesa, de auto-justificação em TODOS nós. Ao mesmo tempo que acusamos o outro, nos defendemos também, é um processo quase que natural do ser humano. Somos todos iguais, embora alguns querem sempre ter suas razões valorizadas, exaltadas e supervalorizadas. A nossa resposta à acusação  do outro brota imediatamente em nosso espírito. Nós nos defendemos contra os JULGAMENTOS com a mesma energia que lutamos para nos defender contra a fome, contra o frio ou contra animais ferozes, porque é uma ameaça mortal, principalmente se a acusação estiver eivada de des-fundamentação, de verdade, sendo fruto de ilações sem a mínima razão.

No fogo dos debates, cada um proclama suas razões, qualidades, acertos, a excelência da sua causa, a pureza de suas intenções e o cuidado moral que o inspirou a confrontar o outro, tudo em nome da “minha honra” para legitimar e validar sua confrontação, mas que não passa de uma judiciosidade vaidade.

No entanto, quem baixa a guarda e aceita sem discussão a acusação, é um ser doente, é atormentado por uma repressão do seu instinto de defesa. Esta é, ao menos, a reação de uma pessoa normal, embora os justiceiros, “os juízes da conduta alheia” e os árbitros do bem e do mal, quase nunca acreditam, a menos que a humildade o habite e pelas evidências que se apresente em nossa defesa, aceitem de bom grado. Mas, isso demanda bom caráter, autocontrole, longanimidade, complacência, maleabilidade e sabedoria daquele que nos acusa. Para estes, não podemos nos defender, pois, está defesa seria uma auto-justificação pra validação de nosso erro, como se nunca admitíssemos quando erramos, ao contrário, inventamos histórias para legitimar nossos atos.

E como se libertar do espírito de acusação e julgamento? O espírito de acusação cai sozinho e bruscamente no momento em que tomo consciência de minhas próprias faltas e falo delas com franqueza de alma, então, ela dá lugar a um espírito caridoso, que busca ouvir, analisar, entender, acreditar e compreender o outro a quem se dispôs a nos dá explicação. A Bíblia denomina este resultado chamando-a de “metanoia“, ou seja, “mudança de mente”, aquela consciência que nos torna um ser humano melhor, menos rancoroso e mais perdoador…

A atitude lógica de acusação do outro e a de autodefesa nossa se transformam em uma atitude do coração, onde cada um se abre sobre as implicações levantadas e procura compreender um ao outro, e assim desistimos de dar voz ao nosso orgulho que motiva nossas acusações quando estamos dispostos a ouvir com humildade a explicação do outro totalmente despidos de nossos pré-julgamentos e preconcepções.

Quem possamos ser humildes de espírito, e que o orgulho e a amargura que tão mal nos fazem, sejam dissipadas de nossas vidas pelo poder da Palavra e pelo amor daquele que acusamos que, em tese, amamos, ou deveríamos amar, pois existe o mandamento de “amar ao próximo…”

Rubens Júnior (baseado no livro “Culpa e Graça.”)
Campos/RJ