Entenda o significado de Maldição Hereditária

Todo texto paira sobre essa frase:

A menos que Deus não queira, porque tudo é determinado por Ele, o ser humano consegue romper qualquer repetição de comportamento.”

Pertence a nós quebrarmos os vãos comportamentos dos nossos pais e só os quebramos quando não repetimos tais comportamentos.

O que temos hoje, de acordo com a média ponderada, do que seja “Maldição Hereditária”, nada mais é do que: A herança da consanguinidade genética.

Involuntariamente, nos tornamos indivíduos parecidos com nossos pais por essa transferência de herança genética. Exemplo: Há filhos que cresceram longe dos pais, mas que repetem o comportamento dos pais, isso porque essa hereditariedade cromossômica faz com que os filhos tenham a tendência de repetir os comportamentos dos seus genitores, tornando-se um prolongador de tais comportamentos.

A repetição dos vícios, defeitos e idiossincrasias dos pais não acontece de forma incontrolada; ela não é adquirida sem a aceitação do homem, ela não chega súbita e compulsoriamente na vida de ninguém de modo que ele não consiga resistir, como se fosse um karma fixo, imutável, indelével e perene: “… ela não conseguirá deixar de ser como os pais foram no passado.”

O que herdamos de nossos pais, se assim podemos dizer, é o pecado original que a todos foi passado por Adão, não maldições individuais de nossos antepassados – “Portanto, como por um homem o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12)

Algo que nunca é comentado

Há uma semelhança superficial entre a Doutrina da Soberania de Deus, que nos aponta para o fato de que até mesmo um passo que damos com os pés foi determinado por Deus (At 17.28 – “… porque nEle vivemos, e nos movemos, e existimos”), com a falsa crença na “maldição hereditária”. Esta última, à semelhança da Soberania de Deus, crê que o indivíduo já nasce predeterminado a ser assim, i.e., a repetir vícios, defeitos e idiossincrasias dos seus ancestrais.

No entanto, a diferença gritante e mais importante é que a Teologia Reformada da Soberania de Deus não ensina que crentes podem nascer amaldiçoados por pecados específicos de seus pais ou avós. Não há base escriturística para isso, pelo contrário, Ez 18:18,19 diz: “Quanto ao seu pai, porque ele cruelmente oprimiu, prejudicou o seu irmão pela violência, e fez aquilo que não é bom entre seu povo, eis que ele morrerá em sua iniquidade. Ainda assim dizeis: Por que o filho não carrega a iniquidade do pai? Quando o filho tiver feito aquilo que é lícito e certo, e tiver guardado todos os meus estatutos, e os tiver feito, ele certamente viverá…” – ou seja, se o filho fizer o que é agradável ao Senhor, este viverá a vida sem o slogan do Maldito Hereditário que repetiu seus pais e seus avós. O v.20 desmonta qualquer possibilidade de similaridade entre as duas posições, ao dizer “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não carregará a iniquidade do pai, nem o pai carregará a iniquidade do filho…

Está claro que a repetição do comportamento não é transferível, é somente um comportamento ruim dos pais que foram adquiridos por pré-disposição genética ou porque foram voluntariamente repetidos. Pensar que essa hereditariedade herdada é algo que, em herdando, não se possa romper, é tirar do indivíduo a responsabilidade de seus atos.

Ex 20.5 é o Calcanhar de Aquiles?

Não te curvarás diante delas, nem as servirás; porque eu o SENHOR teu Deus, sou um Deus ciumento, que visito a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e mostro misericórdia a milhares dos que me amam, e guardam os meus mandamentos.

Note que o texto cita que a primeira geração facilmente deixa-se moldar como sendo fatalismo cármico. A terceira geração é a geração que se revolta, a geração que cai em si e diz: “Não, meu avô foi assim, meus pais são assim, mas eu não concordo com isso, não repetirei suas ações.” Quando isso nunca acontece é porque todos eles decidiram, de forma deliberada, imitar comportamentalmente seus pais e avós, sendo um prolongamento dessa herança maldita.

Note que as iniquidades de uma geração para outra se fazem com aqueles que O “aborrecem”, ela é condicionada à ação de rejeitar a Deus e não a uma maldição mecânica ou espiritual herdada. O v.6 mostra que essa “visitação” da iniquidade não é uma regra fixa, pois Deus também promete misericórdia àqueles que se arrependem e confiam nEle, logo, se o ser humano tiver a capacidade de mudar, nenhum comportamento herdado perdurará: “… e mostro misericórdia a milhares dos que me amam, e guardam os meus mandamentos.

Rompendo esses comportamentos

A gente cessa essas “maldições” rompendo laços culturais pelo nosso poder de decisão e de escolha, eliminando as vãs repetições. O Evangelho todo trata disso dizendo que a nós só nos livramos de um vício comportamental por intermédio da decisão.

Ao mesmo tempo que Deus determina tudo, incluindo nossas ações, paradoxalmente somos responsáveis por elas. A nossa responsabilidade frente a um acontecimento não pode ser negligenciada.

A soberania de Deus na teologia reformada não nega a responsabilidade humana. Deus decreta todas as coisas, mas os homens são responsáveis por seus atos, pois agem conforme sua própria natureza pecaminosa. Um exemplo disso é a crucificação de Cristo, que aconteceu exatamente conforme o plano soberano de Deus; foi Deus que matou Jesus. Ao mesmo tempo, aqueles que participaram da morte de Jesus (Judas, os líderes judeus, Pilatos e os soldados romanos) são responsabilizados por suas ações pecaminosas. Paradoxal, não? Mas é isso que a Bíblia diz: “… a este, entregado pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, pelas mãos perversas o crucificastes e o matastes… Porque, verdadeiramente eles se ajuntaram contra o teu santo filho Jesus, que tu ungiste, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e o povo de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho determinaram antes para ser feito.” (At 2.23 e 4.27 e 28)

Jesus nos diz frequentemente: “… não seja assim…”, “… arrepende-te…”. Paulo também: “… não andeis assim”, “… vós já despistes do velho homem com seus feitos e já vestistes do novo, que se renova em conhecimento segundo a imagem daquele que o criou.” Frisa também: “… aquele que rouba, não roube mais…, pois noutro tempo éreis trevas, mas, agora, sois luz”. E uma das falas mais cruciais de Paulo que demonstra que temos a capacidade de deixar nosso passado ruim para trás foi quando, em Fp 3:13, mesmo tendo todas as propensões para ser um homem psicopatologizado pelo seu passado pérfido, disse: “… uma coisa faço: Esquecendo-se – ele resolve esquecer, deixar passar, deixar ir, não se lembrar mais, teve capitania de si, tomou a decisão… – das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão adiante de mim…

O Evangelho é esse gatilho, é essa suprema consciência que dá ao indivíduo a capacidade de quebrar costumes familiares.

Jesus e uma pá de cal

Em Cristo, e apenas Nele, não devemos temer nenhuma maldição, porque “aquele que está em Cristo – ou seja, aquele que abraçou a nova consciência de fé e prática –, nova criatura é, as coisas velhas (comportamentos velhos e herdados pelos pais e avós) se passaram, eis que tudo se fez novo!” (II Co 5:17).

Nosso Senhor dá uma pá de cal, eliminando toda e qualquer dúvida que possa pairar sobre sua mente concernente ao tema.

Jo 9.1 a 3 – “E quando Jesus passou, viu um homem que era cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Mestre, quem pecou, para que ele nascesse cego, este homem ou seus pais? Jesus respondeu: Nem este homem pecou, nem seus pais; mas para que nele se manifestassem as obras de Deus.

Campos/RJ,
Rubens Júnior.