O hipócrita e a hipocrisia como ela é

“(…)pois não praticam o que pregam. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. Por isso serão castigados mais severamente. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície…” – (Mt 23:13 a 15, 23,25,27)

Aí de vós, hipócritas…”, gritava Jesus em seus discursos… Aprendemos como Ele a chamar pessoas de hipócritas também.

Na sua língua original, a palavra hipócrita denota aquele ator que expressa sentimentos que não tem, se apresentando com várias máscaras. É também aquele que exige do outro o que não pratica.

Por essa percepção apenas, seria fácil enxergar um hipócrita por aí. Quem sabe no seu trabalho, no seu curso, na sua casa, na sua rua… Seria fácil demais.

No entanto, temos que entender Jesus melhor, e ver as raízes do que ele define como significado e tudo que diz. Para ele, hipocrisia é ambígua e ambivalente, ela não é apenas as características citadas acima que, de fato, combinavam e muito com os fariseus. Aliás, os únicos a quem Jesus chamou de hipócrita foram eles, os fariseus, a ninguém mais.

(1)Ele não chamou a nenhum dos seus discípulos de hipócritas quando em certa ocasião eles sugeriram a Jesus orar para que Deus enviasse fogo do céu para matar os samaritanos, por estes não haverem recebido de bom grado as palavras do evangelho… (2)Ele não chamou Judas de hipócrita quando este, com um beijo no rosto, lhe entregou a prisão… (3)Ele não chamou Pedro de hipócrita quando no ímpeto de defender seu mestre, cortou a orelha de um sodado que estava lá cumprindo sua pobre missão em “prender Deus…” (4)Ele não chamou de hipócrita a mulher samaritana que como no ditado popular, isto é, como uma bola de basquete, havia passado na mão de muitos homens e que inclusive, o atual com o qual vivia não era o seu marido… (5)Ele não chamou de hipócrita a mulher que fora pego em adultério quando os fariseus – sempre eles – queriam apedrejá-la segunda a lei dos homens…

Meu Deus! São tatos exemplos de que Jesus a ninguém chamou de hipócrita, somente os doutores da lei (fariseus/saduceus) que faziam tudo sabendo o que estavam fazendo, sempre de caso pensado, de forma deliberada.

Para Jesus, o significado de hipocrisia é sério demais, não é apenas “aquele ator que expressa sentimentos que não tem, se apresentando com várias máscaras, e nem aquele que exige do outro o que não pratica”. Para Jesus, fica claro em sua relação com os fariseus, que hipócrita é também aquele que deliberadamente, isto é, aquele que faz tudo de modo proposital e intencional e, por isso, dentro dele não há, nem um pouco se quer, senso de remorso, de culpa e nem de arrependimento.

Ele faz de modo conscientemente o que pretendeu fazer.

A coisa é simples, mas nem tanto…

Devemos ter o cuidado para não sermos levianos e começarmos a ferir pessoas as chamando de hipócritas como se fosse apenas aquele que exige do outro e não pratica.

O coração do próximo é uma terra habitada pelo criador, só Ele conhece o âmago e o imo do nosso ser.

Rubens Júnior,
Campos/RJ
17/06/2021