por @thiagooliv85
Fabio Porchat deu uma entrevista recente dizendo que não queria ter filhos, pois eles poderiam estragar a dinâmica que ele tem coma a sua esposa. “Filho é um inferno e atrapalha”, foi o que disse o comediante, mas falando muito sério. Uma entrevista que repercutiu bastante e trouxe à tona algumas reflexões acerca do posicionamento de um casal não querer ter filhos.
Obviamente, há muitas conjunturas e não podemos tratar de cada uma delas quanto o assunto é “casal sem filhos”. Todavia, a fala o Porchat acaba lançando luz em algo que está sendo muito estudado em nossa cultura: a autogratificação. Algo que soa tão bem, como a procura de buscar fazer coisas boas para si próprio e pensar na sua satisfação como indivíduo parece que está gerando um efeito colateral.
Que efeito colateral seria esse? Acho que não precisamos apelar para dados estatísticos para ver que nossa sociedade tem se mostrado cada vez mais adoentada. Acometida de um individualismo crônico e de uma aguda e prolongada depressão. Incrivelmente a nossa geração, a mais “self-made” está colhendo resultados amargos de todo empoderamento e “liberdade” conquistada. Qual o motivo disso?
Zygmunt Bauman vem falando acerca da liquidez dos relacionamentos há anos. E eles estão cada vez mais líquidos pelo simples fato de que nas nossas relações interpessoais, nós queremos ter a sensação de que tal relacionamento seja “lucrativo”. A mentalidade é mais ou menos essa: “Preciso ter ganhos, senão pulo fora”. Se tal pessoa não me dá o retorno afetivo (ou até mesmo social e econômico) eu simplesmente preciso partir.
Por isso que casamentos não se sustentam e o número de divórcios é elevadíssimo. E se tratando de filhos, fica complicado querer tê-los quando não se tem nenhuma garantia de quão “lucrativos” eles serão. Não é o que dizem por aí e de forma tão natural? “Filhos gastam muito”; “Filhos atrapalham o trabalho”, “Filhos nos enchem de responsabilidades”.
Numa sociedade com relações líquidas e egolatria exacerbada, ter filhos é uma péssima ideia, pois, como a parentalidade não pode ser descartada como hoje é descartado o matrimônio, a melhor opção é não tê-los. Queremos amar, queremos ser amados. Só não queremos nos doar e esse é o xis da questão: amar é se sacrificar, logo, se não nos sacrificarmos pelos outros, não podemos ser felizes.
No fundo, no fundo, todos nós sabemos disso. É por isso que filmes como “Até o último homem” e “Milagre na cela 7” nos comovem. São história que tem autossacrifício. Enredos onde um personagem se doa em prol de outro e isso nos faz ver o que realmente deveria ser valorizado em toda e qualquer relação: o outro deve anteceder ao meu ego. Por mais paradoxal que seja, é como nos diz a Escritura: “Há maior felicidade em dar do que em receber”.
Cristo é o principal paradigma, de autossacrifício de toda História. Paulo aos Romanos diz: “Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morrei em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Rm 5:7,8). E isso é maravilhoso. Como somos chamados não apenas para acreditar em Jesus, mas também para imitá-lo.
Em I João 3:16 lemos: “Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos”. Então, para conhecer o amor de verdade, busque menos a autossatisfação e tenha mais disposição para doar mais de si em prol do outro. Por mais tempo, dinheiro, ou seja lá o que for que você precise gastar, pense no seguinte: o investimento no amor é sempre válido. E quem nos deixou esse ensinamento foi Jesus.