— Não há maior manifestação de lealdade do que deixar o celular carregando na tomada e sair para passear. Não levar o aparelho, nem se importar com a esposa ou o marido zanzando dentro de casa. Pode tocar, pode vir mensagens, pode entrar avisos, que você não deve nada, não tem coisa alguma a esconder. Não correrá, enlouquecido, para ver se alguém o chamou. Não terá taquicardia com uma conversa visualizada. Não sofrerá crises de posse e de individualidade. Não ficará transtornado porque ela mexeu em seus aplicativos. Não terminará a relação por falta de confiança.
E ainda quando regressar, nenhum medo destrói o contentamento de perguntar se houve um telefonema, fazendo com que a sua companhia entenda que a intimidade é virtude dos dois, que a privacidade não é um problema do relacionamento, que a vida de casal será sempre de ambos. Só de ambos.
Manter segredos, contato e relações extraconjugais no ambiente virtual é tão grave quanto chegar às vias de fato no mundo real.
Ambas as formas de traição não valem a pena e representam uma atitude que em nada acrescenta à construção e manutenção do amor e do casamento. Antes pelo contrário, têm o potencial de inviabilizar a relação à dois.
Nudes, conteúdo pornográfico, aplicativos de relacionamento, redes sociais e outras esferas que estimulam o comportamento infiel no ambiente virtual. Com a revolução tecnológica, posturas como fidelidade e lealdade estão mais difíceis e complexas, o ambiente virtual trouxe um aumento de distrações, dispersões, flertes. Ambiguidade e duplicidade de comportamentos. Facilmente, o indivíduo tem acesso a aplicativos de traição, faz perfis falsos em aplicativos de relacionamento e por aí vai. Há uma espécie de divórcio que divide o ser em duas personalidades distintas: quem você é na rotina e quem você é nas redes sociais.
Isso por que há uma certa confusão que ‘diferencia’ o sujeito do avatar, o que o leva o sujeito a se posicionar de formas distintas no cotidiano e na rede. No entanto, trata-se da mesma pessoa na vida real e na virtualidade.
É preciso terminar a relação antes de trair. Não dá para colocar justificativas, explicações, porque não existem. Antes de pular a cerca, o indivíduo deve pensar que foi ele mesmo que a construiu. Porque foi planejado. Você abraçou as consequências. E vai descobrir que não tem boa hora para contar sobre uma infidelidade. Já a reincidência é burrice.
Alguns podem dizer: não vou dar a senha, tenho direito à minha identidade, intimidade. Mas, elas estão no celular? Nossa, então a vida desse indivíduo deve estar pequena, restrita a um aparelho! O celular não é mais importante que a relação. A lealdade é visível e eu não tenho nada a esconder. Digo que é muito maravilhoso e prazeroso não ficar sofrendo com o celular, com o que o outro pode ver ou saber. a lealdade impulsiona a fidelidade, que demanda do indivíduo estar presente na relação por inteiro, de corpo, cabeça, coração.
Na minha casa, celular é um objeto compartilhado, e não algema. Acabou a bateria do seu? Usa o meu. Não entro em pânico com qualquer mensagem ou telefonema que surja, não há nada a esconder.
Na paixão, as pessoas costumam mostrar um personagem que aceita tudo. Aí, quando vem o amor, chegam todas as verdades junto. Eu e minha esposa não. Fomos didáticos para não nos apaixonarmos por uma farsa — expõe Carpinejar.
(…)declara o autor best-seller Fabrício Carpinejar sobre a reação
esperada à metáfora que dá título ao livro autobiográfico
“Minha esposa tem a senha do meu celular”.