Laconicamente, como o Novo Testamento trata a escravidão?

Escravatura… Ela é pecaminosa, maldosa e sempre foi!

A cruz de Jesus é o grito de todas as libertações na terra. Isso aqui é um princípio eterno de Deus em Cristo.

Desde o princípio, Deus declarou que todos os seres humanos possuem em si mesmos a imagem de Deus (Gn 1.27). O apóstolo reafirmou essa verdade declarando: “Sendo nós, pois, geração de Deus” (At 17.29), e Ele “de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra” (At 17.26). A despeito do fato de a escravatura ter sido aprovada nas culturas semíticas da época, a lei mosaica demandava que os escravos finalmente fossem libertados (Ex 21.2; Lv 25.40). Nesse ínterim, os servos deveriam ser tratados com respeito (Ex 21.20,26,27). Israel, que era uma nação que havia sido escravizada no Egito, era constantemente lembrada por Deus desse fato (Dt 5.15), e a sua ancipação tornou-se o modelo para a libertação de todos os escravos (confira Lv 25.40).

O Novo Testamento proíbe explicitamente o sistema maligno desse mundo que negociava “corpos e almas de homens” (Ap 18.13). O comércio de escravos é tão repugnante para Deus que Ele pronuncia o seu julgamento final sobre o sistema maligno que cometeu esse crime (Ap 17,18).

Nos tempos de Paulo, haviam senhores e escravos nas Igrejas, ricos e pobres. Por isso que ele expressa nos seus escritos a forma como lidava com essas relações; o que ele pensava, como tratava de cada caso, quais recomendações dava…

Na carta aos Gálatas e Colossenses, ele diz que em Deus, não há tipos de gente, não há, não há apartheid e segregação; em Deus todos são a mesma coisa e, assim, a recomendação é que, os que obtiveram essa consciência, tratasse das causas humanas assim, sem divisão:

 “Nisto não há judeu nem grego; não há servo (escravo) nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gl 3:28). “(…)onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo (escravo) ou livre; mas Cristo é tudo em todos.” (Cl 3:11). “Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e, da mesma maneira, também o que é chamado, sendo livre, servo é de Cristo…” (I Co 7:22).

Paulo dá recomendações nessa relação espinhosa entre os “escravos e seus senhores”, porque ele sabia que, conquanto não desse para mudar esse cenário de escravidão em sua época de uma hora para a outra, ele minimiza e tenta diminuir as implicações dessa relação, tentando humanizar os senhores de escravos, retirando deles a mentalidade do serviço cruel e obrigatório, os mandando serem justos, equânimes e não ameaçadores; e dando aos escravos orientação a pacificação obediente ao seu senhor, como se tivesse obedecendo a Deus, sabendo que de Deus se receberá a recompensa de bem que fizerem, furtando aos seus senhores – que era uma reação à mão de obra barata e obrigação imposta sobre eles – , nem sendo enrrolões e preguiçosos, dando prejuízo aos seus patrões.

Ele mandava os senhores de escravos tratarem bem seus criados
“Vós, senhores, fazei o que for de justiça e equidade a vossos servos, sabendo que também tendes um Senhor nos céus.” (Cl 4:1).

“(…)E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles (esse “o mesmo” está nos versos de 5 a 8), deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas.” (Ef 6:9).

Recomenda os escravos cristão a não serem enrrolões, mas obedecerem aos seus senhores, principalmente se eles forem cristãos
Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus. E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas (Cl 3:22 a 25).

Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre.” (Ef 6:6 a 8).

Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados. E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes, os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados. Isto ensina e exorta.” (I Tm 6:1,2).

“Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes ao seu senhor, dando-lhe motivo de satisfação; não sejam respondões(contradizendo), não furtem (defraudem); pelo contrário, deem prova de toda a fidelidade (lealdade), a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tt 2:9,10).

Paulo tinha tanta convicção de que, em Deus, todos são iguais.

Na linda carta a Filemom – um empresário senhor de escravos e cristão –, nos chama a atenção o coração transbordante de fé em Jesus e amor pelos seus irmão desse homem. Paulo diz que “tinha gozo pelo seu coração bom e amoroso”, que inclusive, o coração dos irmãos eram reanimados pelo seu bom proceder na comunidade da fé. Era um homem bom!

No entanto, ele teve sérias desavenças com um escravo em especial e também cristão, chamado Onésimo. Paulo, de forma “sutilmente amorosa e justa“, escreve a carta pedindo que Filelom deixasse todo mal entendido de lado e que voltassem a serem útil um ao outro, que recebesse de volta o rapaz, não só como escravo, mas como irmão em Cristo;  que tratasse o moço – que havia fugido de sua autonomia – como “irmão amado” (v. 16).

Por que eu disse de forma “sultilmente amorosa e justa?“, pode alguém perguntar. Pois bem, conhecendo um pouco a história paralela, percebemos quão grande sentimento humanitário teve Paulo no agir dessa questão, numa época em que se vigorava valores escravagistas desde a antiga mesopotâmia indicados pelo Código de Hamurabi que decretava sentenças aos escravos recapturados após serem fugitivos, a principal delas era o escravo ter o rosto marcado por ferro em brasas. Paulo quebra esse golpe duro e cruel dizendo para Filemom tratá-lo “um irmão amado em Cristo.” Disse que se comprometia até mesmo se moço estivesse devendo alguma coisa – pois, era costume escravos roubarem os seus senhores, como citado em Tt 2:9,10 –, dizendo que pagaria até a dívida. Rogava que recebesse o jovem como se estivesse o recebendo.

A história é linda, leia você mesmo, como são perfeitas as recomendações do novo testamento na relação e no trato ‘senhores e servos’ (escravos):

“(…)solicito-te em favor de meu filho Onésimo, que gerei entre algemas. Ele, antes, te foi inútil; atualmente, porém, é útil, a ti e a mim. Eu te envio de volta em pessoa, quero dizer, o meu próprio coração. Eu queria conservá-lo comigo mesmo para, em teu lugar, me servir nas algemas que carrego por causa do evangelho; nada, porém, quis fazer sem o teu consentimento, para que a tua bondade não venha a ser como que por obrigação, mas de livre vontade. Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente, a fim de que o recebas para sempre, não como escravo; antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo, especialmente de mim e, com maior razão, de ti, quer na carne, quer no Senhor. Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta. Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo: Eu pagarei — para não te alegar que também tu me deves até a ti mesmo. Sim, irmão, que eu receba de ti, no Senhor, este benefício. Reanima-me o coração em Cristo.” Fm 8 a 20

Portanto, enfatizando a igualdade inerente a todos os seres humanos, tanto pela criação quanto pela redenção, a Bíblia colocou os princípios morais que derrubaram a escravatura e ajudaram a restaurar a dignidade e a liberdade de todas as pessoas, seja qual for a sua cor ou grupo social-étnico.

Rubens Júnior,
Campos/RJ
06/08/12